A natureza é insubstituível e seu verdadeiro significado é a preservação das espécies. A omissão humana, no entanto, causa danos irreparáveis ao meio ambiente, como a destruição pelo fogo do ninho de tuiuiú que existia há mais de 40 anos na copa de um ipê roxo, ao lado da BR-262, no Pantanal de Corumbá. O mesmo Homo sapiens, porém, tenta corrigir sua interferência no ecossistema e agora cria um ninho artificial para um símbolo do bioma.
A iniciativa é uma tentativa de resgatar o equilíbrio ambiental do local e manter o atrativo turístico então natural. Quem não se goza seduzido por aquele “conquista”, trafegando pela estrada, e fez seu registro fotográfico ou, simplesmente, contemplou um presente da mãe natureza? O mesmo fogo que destruiu 27% do Pantanal também apagou da memória o ninho que resistiu a vários impactos, inclusive da instalação de um canteiro de obras no entorno.
Esse ninho era observado desde a década de 1980, quando o traçado da rodovia por pouco não o atingiu. Localizado entre o Buraco da Piranha e a ponte sobre o Rio Paraguai, num raio de 50 km, comprovou o que dizem os cientistas: os tuiuiús são fiéis ao local de nidificação. Por décadas, se reproduzir no mesmo local, com os filhotes se tornando um atrativo entre os meses de setembro e novembro. No ano passado, nasceram quatro deles, uma benção!
Estrutura de concreto
Agora, depois de sua destruição, ocorrida em setembro (início da reprodução da espécie), especialistas em natureza tiveram a feliz ideia de criar uma alternativa para substituir uma estrutura criada sobre trançados de gravetos. Como o tronco da árvore foi comprometido, o biólogo Walfrido Tomas, da Embrapa Pantanal, sugeriu à Fundação de Meio Ambiente de Corumbá o projeto alternativo, que foi aprovado com a construção de uma torre, ao lado.
Com uma parceria da empresa Energisa, uma estrutura de concreto com 12 metros de altura vai dar suporte ao ninho artificial metálico, que ganhou material inicial (gravetos) para induzir o casal de tuiuiús a reconstruí-lo e adotá-lo. Tomas se inspirou nos ninhos artificiais na Europa, onde são comuns, e no projeto das araras azuis conduzido pela bióloga Neiva Guedes. “Não há experiência prévia com essa espécie, então vamos aguardar”, diz ele.
Fogo criminoso
O sucesso da iniciativa, contudo, não se limitar a aceitar a aceitação de novo ninho. A falta de alimentação no local, destruída pelo fogo ou aniquilada pela seca, é a grande questão. Como lagoas no entorno secaram, portanto, não há comida (peixes, moluscos, répteis, insetos e pequenos mamíferos, que fazem parte da dieta da ave). “O ninho era estratégico e oferecia um raio de visão maior em relação aos predadores”, diz o biólogo Thomaz Liparelli.
Resta esperar e torcer para que o ninho artificial não se torne apenas um projeto a mais incorporada ao relatório de sustentabilidade da empresa privada, ou apenas em monumento vivo. Ainda se discute se o fogo que destruiu o ipê não foi criminoso, pois se concentrou ao redor da árvore. E mais: por que a prefeitura de Corumbá não monitorou o ninho durante os incêndios para preservar um patrimônio natural criado por lei municipal em 2011?