STJ manda Ministério Público de MS entrar em operação contra corrupção no TCE-MS
Cópia da investigação que afastou de seus cargos três conselheiros do Tribunal de Contas do Estado será enviada ao MPMS
Policiais federais apreenderam documentos na quinta-feira no Tribunal de Contas de MS – Marcelo Victor
O MPF pediu e o STJ afastou por seis meses os conselheiros Iran Coelho das Neves (presidente do TCE-MS), Waldir Neves Barbosa e Ronaldo Chadid, além de determinar o uso de tornozeleiras eletrônicas. Eles nem sequer podem, durante o período fixado pela Corte, se aproximar do prédio do TCE-MS, situado no Parque dos Poderes, em Campo Grande.
Em trecho da decisão do ministro do STJ Francisco Falcão, ele diz que detalhes e documentos das investigações que implicaram os conselheiros sejam compartilhados “de todas as provas obtidas com o Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS) para que este adote as medidas judiciais cíveis cabíveis, tais como a propositura de ação civil para a anulação e a suspensão do contrato entre o TCE-MS e a Dataeasy, a propositura de ações de improbidade, ressarcimento e outras que se entender cabíveis”.
Ou seja, além das investigações contra os conselheiros, o MPMS deve pedir que eles devolvam o que teriam recebidos como propina para fraudarem processos licitatórios.
Pelas investigações do MPF, os conselheiros teriam praticados crimes de corrupção ativa e passiva, fraude em licitações, fraude na execução de contratos, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
DETALHES
Partes das investigações que devem ser compartilhadas com o MPMS e que podem complicar ainda mais a situação dos conselheiros têm a ver com a participação no esquema de dois servidores do TCE-MS, que também foram afastados de seus cargos.
Diz trecho da apuração: “Observou-se que dois servidores do TCE-MS [Douglas Avedikian e Parajara Moraes Alves Júnior] tiveram participação em diversas etapas sensíveis do processo, o que configurou aparente ofensa ao princípio da segregação de funções”.
De acordo com o MPF, “os dois servidores eram responsáveis pelos atos iniciais da contratação e atuaram também como fiscais e gestores do contrato da Dataeasy, o que parece ter afrontado o princípio da segregação de funções, o qual busca impedir que uma mesma pessoa seja responsável por mais de uma atividade sensível nos processos de trabalho, sem o devido controle”.
DINHEIRO
O Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul, com a decisão do STJ, deve ouvir os três conselheiros e saber deles a razão de terem guardado em casa e na casa de uma assessora
R$ 1,6 milhão em espécie.
Em depoimento ao MPMS, um dos conselheiros disse que guardava o dinheiro há 20 anos e que o motivo seria quitar dívidas com ex-mulheres com as quais teve filhos.
COMPARTILHAMENTOS
Além de determinar o compartilhamento das informações de documentos que sustentaram o afastamento dos três conselheiros do TCE-MS, o STJ também tomou uma decisão que deve complicar a vida de um gerente do banco Itaú, cujas ações podem ter contribuído com o esquema da partilha de dinheiro envolvendo a empresa Dataeasy e os investigados.
“Autorizo, ainda, o compartilhamento com o Banco Central do Brasil e com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras das informações relacionadas à omissão de prestação de informações aos órgãos reguladores identificadas no curso da presente apuração, envolvendo a denominada ‘Transação 241’”.
O caso em questão envolve o gerente do banco Emerson Araújo, que, segundo a investigação “recebia os cheques da Dataeasy na agência Itaú 5606 [que fica em Brasília] e os registrava como Transação 241”.
Neste tipo de transação, o bancário apenas compensava o cheque, mas, depois, realizava um saque na conta e acabava por inviabilizar o rastreamento do dinheiro via mecanismos como o Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf), que examina e identifica as ocorrências suspeitas e comunica às autoridades competentes quando conclui pela existência de crimes de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, direitos e valores.
Por meio dessas operações (Transação 241), foi sacado R$ 1,3 milhão.
A OPERAÇÃO
A operação que afastou os conselheiros do TCE-MS, batizada de Terceirização de Ouro, ocorreu na quinta-feira e foi conduzida pela Polícia Federal, pela Receita Federal e pela Controladoria-Geral da União.
Os policiais cumpriram ao menos 30 mandados de busca e apreensão, um deles no prédio do TCE-MS, em Campo Grande, onde ficaram atrás de provas por ao menos sete horas.
Com o afastamento do presidente da Corte Fiscal, Iran Coelho das Neves, assumiu o vice, Jerson Domingos. Conforme a assessoria do TCE-MS, assumem as vagas dos afastados auditores-fiscais do Tribunal.