O sorriso sincero de dona Zenir Eloy, mãe do advogado Luiz Henrique Eloy Amado, recebendo o diploma de doutor do filho é de emocionar. A foto que registrou o momento foi publicada na página dele e já ganhou muitos comentários. Uma conquista que parece comum para alguns, mas que teve um gosto muito mais especial para o indígena sul-mato-grossense que atribui cada passo dado à mãe.
Luiz, conhecido como Eloy Terena, tem 31 anos e já é figura no Estado por defender as causas que envolvem os impasses nas demarcações de terras indígenas. Ele terminou o doutorado aos 30, do jeitinho que sonhava, mas, segundo ele, nada disso seria possível sem os anos de batalha da mãe para não faltar nada aos seus filhos.
Nascido na Aldeia Ipegue, localizada em Aquidauana – a 135 quilômetros de Campo Grande. Eloy voltou à aldeia nesta semana para entregar pessoalmente o diploma a Zenir. “Ela já sabia que eu era doutor, mas ainda não tinha visto o certificado. Eu estava fazendo pós-doutorado na França e quando cheguei ao Brasil na semana passada soube que o diploma estava pronto e fui buscar”.
Doutor pelo Museu Nacional – UFRJ, Eloy chegou ao onde nasceu, se criou e recebeu as primeiras lições para o manejo do mundo, com um pedaço de papel significativo, “conquistado através de um esforço coletivo”, diz. “Eu tive essa ideia de dar uma devolutiva para família e minha comunidade. Minha mãe foi a pedra fundamental para continuar estudando. À época, sair da aldeia para estudar era muito difícil. Isso só acontecia quando se tinha familiar na cidade, o que não era o meu caso”.
Mesmo assim, todos os anos a mãe de Eloy vivia uma correria para conseguir matricular os filhos na escola e garantir o material. Zenir não só trabalhou, como rompeu paradigmas para garantir os estudos dos filhos. “Só foi possível continuar eu e minha irmã continuarmos estudando porque minha mãe tomou atitude sair da aldeia para ser diarista. Ela enfrentou as tradições da comunidade como uma mulher solteira e foi trabalhar na cidade. Depois de um ano ela voltou para buscar a gente e nos fez dois profissionais, graças a sua coragem na década de 90”.
Não fosse à luta da mãe, Eloy acredita que os caminhos trilhados teriam sido diferentes. “Ou eu ia estudar ou cortar cana, naquela época era muito comum terminar o Ensino Fundamental e ir trabalhar”, lembra.
Atualmente, o advogado indígena Terena, defensor dos direitos humanos dos povos indígenas, é assessor jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. Ela também cursa pós-doutorado na França na área de Ciências Sociais.
Um novo desafio que Eloy está disposto para adquirir conhecimento e mostrar ao mundo a realidade dos povos indígenas. “Na medida que eu estou indo para fora caminhar com as pesquisas, é uma oportunidade de estar participando de vários outros espaços para as pessoas estarem ouvindo sobre o que está se passando no nosso país”.
Segundo Eloy, tanto para os indígenas quando para os não indígenas, há um forte interesse sobre a realidade da resistência dos povos no Brasil em virtude do atual contexto político em que pauta ambiental envolvendo indígenas estão frequentemente na mídia. À medida que são noticiadas tantas coisas ruins acho que é importante divulgar que nossos povos indígenas não são só frutos de notícias ruins”
Eloy também pontua a contribuição dos indígenas para a academia e a mudança de papéis que também é uma luta para o seu povo. “A nossa presença dentro da universidade tende a inverter um pouco a lógica, nós saímos da condição de estudados para ser um pesquisador, isso faz toda revolução no modo que a gente enxerga a pesquisa. Estou muito interessado nos impactos da nossa produção acadêmica dentro da própria academia”.