Um rico esquema de lavagem de dinheiro”, assim foi definido pelo delegado da Polícia Civil de Minas Gerais Murillo Ribeiro o esquema desmantelado ontem pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), que atingiu a cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que atua no tráfico de drogas em todo o País.
Em Mato Grosso do Sul, a operação cumpriu 85 mandados de prisão, sendo 51 em cinco presídios do Estado, e 37 mandados de busca e apreensão.
A operação de segunda-feira, feita por Polícia Federal, Polícia Civil de Minas Gerais, Departamento Penitenciário Nacional (Depen), entre outros, descobriu que detentos usavam a conta bancária de familiares para lavar o dinheiro do tráfico.
Essa ação foi um desmembramento da Operação Caixa Forte 1, deflagrada no ano passado.
De acordo com o coordenador da operação, Alexsander Castro, na documentação apreendida em 2019, que tinha como objetivo o “Setor do Progresso”, os investigadores descobriram que a facção destinava parte do dinheiro recebido com o tráfico para contas de uma outra área, chamada de “Setor da Ajuda”.
“Um setor dessa organização criminosa que paga uma espécie de mesada ou salários para os seus membros, em especial os membros do alto escalão que estão recolhidos ou estavam escolhidos, alguns deles no Sistema Penitenciário Federal. Nós identificamos as contas e onde estavam sendo feitos esses pagamentos”, explicou Castro.
Esses pagamentos eram feitos por meio de contas de laranjas, que, em sua maioria, eram familiares dos próprios presos.
“Pessoas que não pertencem a essas organizações criminosas, mas que disponibilizavam essas contas para que os pagamentos fossem feitos e ficassem escondidos do sistema, pelo menos na esperança de que ficassem escondidos”.
“Elas passavam despercebidas. Essas pessoas que disponibilizavam as contas respondem por lavagem de dinheiro, estão ocultando dinheiro da facção criminosa para o real beneficiário, que é o faccionado. Entre os investigados, os membros da organização criminosa, há diversos deles que já executaram servidores públicos, membros que já estão no exterior, ou seja, é realmente o alto escalão dessa organização criminosa”, completou o coordenador, ressaltando que muitas delas recebiam parte desse dinheiro depositado como pagamento pelo uso da conta.
MANDADOS
A ação de ontem envolveu cerca de 1.100 policiais federais, que tinham como missão cumprir 624 ordens judiciais, sendo 422 mandados de prisão preventiva e 202 mandados de busca e apreensão, em 19 estados e no Distrito Federal.
Além disso, também havia a ordem de bloqueio judicial de até R$ 252 milhões nas contas da facção. Todos os mandados foram expedidos pela 2ª Vara de Tóxicos de Belo Horizonte (MG).
Em atualização no final da tarde de segunda-feira, a PF confirmou que haviam sido cumpridos 305 mandados de prisão e todos os de busca e apreensão no Brasil (havia também alguns no Chile).
Durante esses cumprimentos foram apreendidas quatro armas de fogo e cerca de R$ 6 milhões em Santos (SP), sendo aproximadamente R$ 2.170.000 e US$ 730.000.
“Essa operação é a maior da história do País e da Polícia Federal em vários aspectos, em número de mandados de líderes de facção soltos, em número de estados – contando o Distrito Federal, são 20 –. É a maior operação de lavagem de dinheiro – e isso é muito importante, porque ela não é uma operação de um estado somente”, declarou o coordenador geral de Repressão a Drogas, Armas e Facções Criminosas, Elvis Secco.
Esses pagamentos eram feitos para detentos faccionados que estavam presos, e os valores, conforme Castro, variavam de acordo com o “serviço” prestado pelos mesmos.
“Se ele foi por arremetido para o sistema prisional por pertencer à facção, ele recebe X, se ele foi por exercer algum cargo de relevância na facção, ele recebe 2X, e se ele executou alguma missão da facção, ele recebe 3X – entenda-se ter mandato algum servidor público”, exemplificou, dizendo que esses valores eram tabelados pela organização.
Ainda segundo o coordenador da operação, os policiais eram os alvos prioritários, mas também havia outros servidores na mira desse grupo.
ROTA DO TRÁFICO
A maioria dos mandados foi cumprida no Paraná e em Mato Grosso do Sul, estados que fazem fronteira com o Paraguai e com a Bolívia, principais fornecedores de entorpecentes para essa organização criminosa.
Foram identificados 210 integrantes do alto escalão da facção que estavam ou estiveram recolhidos em Presídios Federais: 51, a maioria, em Mato Grosso do Sul; e 32 no Paraná. Eles recebiam valores mensais por ocuparem cargos de destaque na organização criminosa ou por terem executado missões determinadas pelos líderes, como, por exemplo, execuções de servidores públicos.
Entre esses mandados, 172 foram cumpridos em estabelecimento penais do País, mas a maioria foi cumprida fora do sistema penal.
“O objetivo dessa operação é asfixiar o patrimônio dessa organização criminosa, diminuir a sua atuação e desarticular, de fato, não só o vínculo do narcotráfico, mas, principalmente, reduzir a movimentação financeira”, disse o delegado da Polícia Civil de Minas, Murillo Ribeiro.
A estimativa da Polícia Federal é a de que o PCC tenha mais de 30 mil integrantes em todo o País. Esta investigação estava em curso há mais de um ano.
Correio do Estado