Operação do Garras (Delegacia Especial de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros) e da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) começou a recolher, nesta quarta-feira (9), as bancas do jogo do bicho. A ofensiva sinaliza fim da tolerância velada com a contravenção penal, que rendeu uma fortuna à família Name e perdurou por mais de quatro décadas na Capital.
Apesar de ser considerado contravenção, a jogatina sempre funcionou livremente na Capital. Bancas de apostas funcionavam até na frente de delegacias ou outras unidades de segurança pública. O Fantástico, da TV Globo, chegou a flagrar apostas feitas dentro da Assembleia Legislativa, quando a casa era presidida por Jerson Domingos, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e cunhado de Jamil Name.
A atividade é tão antiga que até o Exército Brasileiro registrou a exploração da atividade em relatório do SNI (Serviço Nacional de Inteligência) em 1981. “No ano de 1980, observou-se uma expressiva evolução do funcionamento de cassinos e de bancas do chamado JOGO do BICHO em Campo Grande. Esses locais, aqueles em que são realizados as apostas, são de conhecimento popular, sendo comum observar-se pessoas realizando e conferindo os cartões das apostas, de forma ostensiva”, registraram os arapongas em relatório encaminhado à cúpula das Forças Armadas na época da ditadura militar.
Em 2006, durante a Operação Xeque Mate, a Polícia Federal chegou a intimar Jamil Name e prendeu o seu filho, Jamil Name Filho. Contudo, o alvo era a exploração da jogatina por meio de caça níqueis. Apesar de ser notório na cidade, o jogo do bicho sobreviveu incólume.
O prestígio e o poder de Jamil Name foram uma lenda na Capital. Amigo de desembargadores, delegados, políticos, juízes e policiais, nem ele acreditou na prisão em setembro do ano passado. Ao deixar a mansão no Jardim Bela Vista, ele despediu-se da esposa, a ex-vereadora Tereza Name, com a profética frase – “até amanhã, querida” – que acabou não se cumprindo.
A cada nova fase da Omertà, o Garras e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) foram complicando a situação do poderosíssimo empresário e dilapidando o prestígio com os “amigos” influentes. Inicialmente, a acusação era a formação de milícia privada e o arsenal de guerra.
Em seguida, ao revelar as brutais execuções na cidade, a Força-Tarefa ligou Jamil Name o assassinato do universitário Matheus Coutinho Xavier, 20 anos. Depois, a denúncia de que o empresário Marcel Hernandes Colombo, o Playboy da Mansão, foi executado por motivo torpe – um tapa em Jamilzinho dentro uma boate.
Na 3ª ofensiva, a investigação o ligou ao compadre, outro poderoso e lenda na política estadual, Fahd Jamil, conhecido como o rei da fronteira. Na 4ª fase, com a Operação Black Cat, o Gaeco e o Garras investiram na mina de ouro do suposto grupo de extermínio, o jogo do bicho.
Na 5ª fase chegou a um dos integrantes do braço político, o vereador Ademir Santana (PSDB). Na 6ª fase, com a Arca de Noé, o grupo prendeu os gerentes do jogo do bicho, identificou os 47 motociclistas responsáveis pela rota das apostas e conseguiu liminar para interditar o Pantanal Cap, acusado de lavar o dinheiro do jogo do bicho.
Os 13 gerentes da atividade, inclusive Darlene Luíza Borges, a Dadá, considerada a chefona do jogo do bicho, continuam atrás das grades. A reabertura do Pantanal Cap depende da desembargadora Elizabete Anache, relatora do mandado de segurança no Tribunal de Justiça.
Responsável pela venda dos títulos de capitalização e filho de Jamil Name, o deputado estadual Jamilson Lopes Name (sem partido) nega que a empresa seja lavanderia do jogo do bicho. Ele até constituiu uma nova empresa para tirar o pai e o irmão, presos na Penitenciária Federal de Mossoró, da sociedade.
Agora, com a retirada das famosas barraquinhas do jogo do bicho, a Polícia Civil tenta sepultar de vez a atividade na Capital. A operação deverá levar vários dias. No total, as apostas eram feitas em 510 lugares. As bancas estão sendo retiradas porque não há licença para a instalação nem alvará de funcionamento nas calçadas.
Decidiu-se cobrar a mesma regra, que há tempos só era exigida dos donos de bares e restaurantes, de que a calçada é livre para o pedestre.