Além da perda, família vai precisar desenterrar gestante que morreu em parto para provar erro médico
Com a dor da perda e esperança pela recuperação de uma vida recém-chegada ao mundo, a família de Glaucia Benta Portilho encontra forças para lutar por Justiça. Há 12 dias, Glaucia faleceu durante o parto de Keven Gabriel, sob condições em que a família aponta ter ocorrido negligência e violência de equipe médica do Hospital Regional de Campo Grande.
Ao Ministério Público Estadual (MPE-MS), a Associação de Vítimas de Erros Médicos de Mato Grosso do Sul (Avermes) solicitou a exumação do corpo, já que não foi esclarecida a causa da morte em documentação oficial. Glaucia teria sido submetida a uma série de procedimentos incompatíveis com sua condição gestacional, que era de altíssimo nível de risco, já que tinha diabetes e pressão alta.
O pai de Kevin, Jonathan Guilherme Alencar da Silva, 24 anos, relata que não foram poucas as idas ao hospital para realizar o acompanhamento da gravidez e que todos os cuidados que podiam ser tomados pela família foram feitos. “Íamos sempre ao hospital, fez pré-natal certinho, oito ultrassonografias, tudo certo. Até a 40ª semana, quando foi feito o parto de urgência”, conta.
(Foto: Wesley Ortiz)
Jhonatan relembra o dia do nascimento do filho. Em uma consulta de rotina, ficaram no hospital desde a manhã até às 21h. Médicos teriam achado o batimento cardíaco do bebê incomum, mas apenas medicaram com analgésicos Glaucia, que reclamava de dores, e a liberaram. Na madrugada do dia seguinte, ela entrou em trabalho de parto e teve eclampsia, convulsões associadas à hipertensão arterial.
Levada ao Hospital Regional pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), Glaucia foi diretamente encaminhada à sala de parto e, sem que a família tivesse qualquer informação, foi realizado parto normal. A não opção pela cesariana, como quer provar a família, teria sido fatal para a gestante.
Como a saída do bebê por vias naturais não foi possível, a equipe médica precisou realizar um corte em sua barriga. Houve hemorragia durante o procedimento, em que o útero foi retirado e, devido ao forte sangramento, Glaucia não resistiu e faleceu na mesa de cirurgia.
Jhonatan relata que, no momento em que a família recebeu a notícia sobre a morte, não receberam esclarecimentos sobre o que teria de fato ocorrido. O corpo não chegou a ser encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) para que fosse comprovada em documento a causa do falecimento, o que a Avermes classifica como ‘gravíssimo’.
“Tamanha violência e negligência sequencial têm que ser responsabilizadas. A exumação deste corpo é para provar que realizaram um corte enorme na Glaucia, que ela foi ferida e estava com a pressão muito alta, incapacitada de fazer força de um parto normal”, avalia o presidente da associação, que afirmou denunciar o caso criminalmente à Polícia Civil.
O bebê ingeriu líquido amniótico durante seu nascimento e permanece entubado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da maternidade do hospital. Quando escuro e espesso, esse líquido pode trazer graves consequências se ingerido, o que também vai ser acompanhado durante a recuperação de Keven.
Família precisa de ajuda
Além do bebê recém nascido, Glaucia tinha mais quatro filhos, todos agora sob a tutela de Jonathan. Sem emprego, o pintor se encontra sob dificuldades de criar as crianças, e pede por ajuda.
Doações de leite NAN, fraldas ou cestas básicas são as necessidades primordiais da família. Para ajudar, basta ligar no telefone (67) 99110-8084.
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