Cerrado (61% do território de MS) recebe 600 milhões de litros de agrotóxico por ano
Correio do Estado
Lavouras de soja no Cerrado cresceram cerca de 1.440% entre 1985 e 2021, ocupando um total de 10% da sua área – Gerson Oliveira/ Correio do Estado
Dados do dossiê “Vivendo em Territórios Contaminados”, da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), elaborado em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontam para substâncias proibidas em outros países, usadas livremente no Brasil, como o glifosato ou o metolacloro.
Assessora da Campanha e uma das organizadoras da publicação, Mariana Pontes esclarece que foi feita a revisão de literatura especializada sobre agrotóxicos e as análises laboratoriais.
“Além da contribuição dos conhecimentos tradicionais das comunidades que estão, cotidianamente, enfrentando os impactos dos agrotóxicos que poluem às suas águas e envenenam os seus roçados”, disse.
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Somente entre 2019 e o ano passado, mais de 1.800 agrotóxicos tiveram uso liberado no Brasil, sendo que pelo menos metade deles são permitidos na Europa por oferecerem riscos à saúde humana e ao meio ambiente.
Segundo o documento da CPT, esses produtos seguem em uso em solo nacional, combinados com sementes transgênicas e utilizados ostensivamente nas lavouras do país, via pulverização terrestre e aérea.
“Impactando não somente o ar, as plantações, as águas, a terra e a biodiversidade, mas povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais”, expõe.
Além das três substâncias já citadas, o documento da CPT traz os seguintes destaques:
- Fipronil:
Também encontrado nas pesquisas, tem como alvos primários o sistema nervoso, a tireoide e o fígado, e foi classificado pela USEPA como um possível carcinógeno humano devido à ocorrência de tumores na tireoide.
Esse Ingrediente Ativo também está associado a milhares de casos de intoxicação em humanos, incluindo graves, que evoluíram para óbito; - O 3º agrotóxico mais detectado:
Conforme análises foi a atrazina, presente em todos os estados em ao menos um ciclo, à exceção do Mato Grosso. No Maranhão, os níveis de atrazina detectados na comunidade de Cocalinho foram mais de 2 vezes superiores ao valor máximo permitido segundo as normativas brasileiras. - Dos oito agrotóxicos identificados:
E quantificados durante a pesquisa-ação, quatro estão entre os 10 mais comercializados no Brasil em 2021. O glifosato ocupa a primeira posição, sendo seguido do 2,4-D (2a posição), da atrazina (5a posição) e do metolacloro (10a posição).
Soja
Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revelam que, a área cultivada de soja no Brasil na safra de 2020/21 foi de 38,5 milhões de hectares, dos quais 20 milhões estavam localizados no Cerrado, mais de 50% do toda a soja cultivada nacionalmente.
Lavouras de soja no Cerrado cresceram cerca de 1.440% entre 1985 e 2021, ocupando um total de 10% da sua área, sendo essa a cultura que mais demanda agrotóxicos, já que mais de 63% desse produto vai é voltado para “incrementar” esse plantio.
Lançando olhar só sobre esse recorte, a pesquisa revela que apenas 32% do volume pulverizado atingem de fato suas plantas-alvo; quase metade (49%) vai para o solo e 16% ficam dispersos no ar.
Sendo também uma das regiões mais biodiversas, o Cerrado abriga cerca de 5% da biodiversidade terrestre.
“E essa biodiversidade, toda essa riqueza devido à permanência, ao manejo das paisagens, às lutas que vêm sendo travadas há tantas gerações pelos povos e comunidades tradicionais do Cerrado. O Cerrado existe e resiste hoje devido aos modos de vida, aos saberes tradicionais das comunidades indígenas, quilombolas, geraizeiras, quebradeiras de coco babaçu, raizeiras e várias outras comunidades”, diz Pontes, em entrevista à Agência Brasil.
Organizações responsáveis destacam que, para além de serem contra agrotóxicos, o protesto também se opõe à transgênicos e demais biotecnologias que trazem risco à vida. Clicando aqui você tem acesso, na íntegra, ao dossiê elaborado pela CPT