Marquinhos Trad (PSD) não cumpriu mais uma promessa, a de que não aumentaria impostos. Apesar do decreto publicado em dezembro prever apenas a correção de 2,56%, a simples reposição da inflação, o prefeito assustou o contribuinte com o aumento de até 59% no valor do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).
A indignação popular ficou maior porque o reajuste ocorreu justamente no período em que a cidade ainda está tomada por buracos e ao péssimo atendimento nos postos de saúde. Pela legislação, o município não poderia promover o tarifaço, comum na gestão de Nelsinho Trad (PTB), por meio de decreto.
O funcionário público Oscar Belfort de Almeida não teve palavras para expressar a indignação com o reajuste de 14% no IPTU (de R$ 973,86 para R$ 1.111,08), quase cinco vezes o índice anunciado por Marquinhos. “Não vi nenhuma melhoria na região para justificar o aumento de 14%”, observa. A Vila Jacy não teve nenhuma obra ou empreendimento novo nos últimos anos.
Ele contou que teve reajuste zero no salário. “O retorno vem em buracos”, lamenta, sobre o pagamento em dia do IPTU, já que sempre paga à vista para obter o desconto de 20%. Aliás, Marquinhos manteve a maldade de Gilmar Olarte, que antecipou o vencimento com o desconto maior de 10 de fevereiro para 10 de janeiro.
Não aumentar impostos e rever IPTU
Marquinhos afirmou que não vai aumentar impostos e que vai rever o IPTU. O prefeito garantiu ainda que vai cobrar o que é justo, pois ele não acha justo cobrar 70% de taxa de esgoto ou 10 metros cúbicos [de água] para quem gasta menos.
Promessa foi feita durante debate da TV Morena, em outubro de 2016.
O reajuste foi maior nos imóveis do autônomo Haroldo Borralho, 63 anos. O tributo de sua casa no Bairro Caiçara teve aumento de 59%, de R$ 272,15 para R$ 433,24. A constatação o surpreendeu, porque chegou a repetir várias vezes, antes de comparar, que o aumento tinha sido irrisório.
“Achava que era apenas a inflação”, admitiu, ao constatar que divergência entre o decreto propagado pelo prefeito e a cobrança real. O imposto sobre um terreno no Jardim Atlântico teve aumento de 57,2%, de R$ 79,29 para R$ 124,68. “Não tem nada, não tem iluminação pública, não tem asfalto, não tem rua”, conta. “Eu não consigo achar o meu terreno, mas a prefeitura acha”, contou.
Nas redes sociais, a população começa a expressar a indignação com o aumento expressivo no IPTU. Jean Michel Marsala recorreu ao Facebook para demonstrar a indignação com reajuste de 46% no tributo, que passou de R$ 211 para R$ 309. “Na maior crise da história deste país a população de Campo Grande não merece este tratamento por parte do chefe do Executivo!”, desabafou.
O reajuste no IPTU, ignorado pelos jornais e grandes portais de internet, surpreendeu por dois motivos. O primeiro foi que Marquinhos prometeu “não aumentar impostos e rever o IPTU”. Contudo, não é a primeira promessa não cumprida, ele também tinha prometido congelar a tarifa de ônibus, mas autorizou reajuste e ainda deu isenção de R$ 35 milhões às empresas.
O segundo motivo foi que o prefeito anunciou, em dezembro, o menor reajuste desde 2013 no valor do IPTU, que era a reposição da inflação. Só não foi o menor da história porque os vereadores forçaram o congelamento naquele ano, mas não foi para ajudar o povo, mas simplesmente com a intenção de sacanear Alcides Bernal. O Jacaré chegou a publicar a matéria destacando que o prefeito estava sendo justo ao só repor a inflação, leia aqui.
Apesar dos moradores destacarem que não realizaram reforma nem ampliação, a prefeitura informou que só promoveu reajuste acima da inflação nos imóveis que tiveram alteração cadastral. “Portanto, um novo cálculo é feito mediante as informações cadastrais atualizadas”, informou, em nota.
Na nota, a prefeitura nem citou eventual melhoria na cidade. Além de não ter realizado nenhuma obra de infraestrutura, o prefeito pagaria mico se ignorasse a buraqueira de ruas e avenidas, um pesadelo para quem passou as festas de fim de ano na Capital.
“O IPTU sofreu apenas correção da inflação, de 2,56%, conforme IPCA-E”, insistiu, apesar das queixas.
A população vem lotando, desde ontem, a Central do Cidadão para reclamar dos novos valores do tributo.
Sobre a taxa do lixo, criada na atual gestão e impulsionada no carnê do IPTU, o prefeito, por meio da assessoria, informou que “o cálculo é baseado na metragem da edificação, tipo de ocupação (terreno, residência, comércio/indústria, serviço/misto ou público) e o perfil socioeconômico imobiliário do bairro.” “A Taxa do lixo é cobrada de todo e qualquer imóvel, uma vez que todos produzem resíduos”, concluiu.
Marquinhos não só imita o irmão, Nelsinho Trad, ao promover o aumento no IPTU, como mantém um costume da política brasileira: promete o céu na campanha, mas na prática, entrega, no mínimo, o purgatório.