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Em cinco anos, a receita do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul teve aumento de 94,5%, o dobro da inflação acumulada no mesmo período e cinco vezes superior ao crescimento da verba destinada à educação. Mesmo assim, o órgão propôs o aumento de até 48% nas taxas dos cartórios extrajudiciais. Parte do aumento bancaria a criação do auxílio-transporte, que poderia chegar a R$ 6 mil por mês.

Devido à polêmica, à indignação da sociedade contra as duas propostas e ao desgaste em ano eleitoral, os deputados estaduais estavam resistentes a aprovar os projetos. A saída foi recuar. Nesta terça-feira, o presidente da Assembleia, deputado estadual Junior Mochi (MDB), anunciou a suspensão da votação das propostas.

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A retirada teve o aval do presidente do TJMS, desembargador Divoncir Schreiner Maran, que discutiu o tema ontem à tarde com o emedebista. Eles acertaram que o auxílio-transporte, que pode varia de R$ 4,3 mil a R$ 6.094, poderá voltar a pauta após o Supremo Tribunal Federal julgar a legalidade do auxílio moradia aos magistrados, previsto para o final de março.

A evolução do orçamento da Justiça e áreas essenciais

+239% – Tribunal de Justiça

2008 – R$ 258,7 milhões

2018 – R$ 877,5 milhões

+135% – Educação

2008 – R$ 666,6 milhões

2018 – R$ 1,332 bilhão

+120% – UEMS

2008 – R$ 97,2 milhões

2018 – R$ 214,1 milhões

+ 124% – Segurança

2008 – R$ 551,1 milhões

2018 – R$ 1,235 bilhão

Além de definir se o pagamento é legal, a corte máxima deverá analisar as situações excepcionais, como destinar o benefício para magistrados com residência própria.

Em Mato Grosso do Sul, o auxílio moradia varia de R$ 4,3 mil a R$ 6,09 mil, apesar do valor ter sido tabelado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em R$ 4.377. Além disso, os juízes e desembargadores possuem direito a mais dois auxílios, alimentação (5% do subsídio) e saúde (5%).

O dinheiro para pagar o novo auxílio virá do FUNJECC (Fundo Especial de Desenvolvimento, Instalação e Aperfeiçoamento dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais), mantido por meio de cobrança das taxas cartorárias. As taxas dos serviços mais usados terão aumento de até 48%.

Por outro lado, a proposta do TJ reduz o valor das taxas para registros de imóveis, principalmente dos mais populares. O órgão alega que moradores deixarão de fazer a escritura em cidades de outros estados com a redução nas taxas, as mais caras do País.

O atraso na votação dos projetos no legislativo não deverá causar transtornos aos magistrados, que receberam de R$ 30,3 mil a R$ 158 mil em janeiro, conforme o CNJ.

Mas não é apenas em salários que  a magistratura vai bem. Entre 2013 e este ano, o orçamento destinado ao Tribunal de Justiça teve aumento de 94,5%, de R$ 450,9 milhões para R$ 877,5 milhões.

A alta é quase três vezes maior que a inflação oficial acumulada em cinco anos, de 29,92%, considerando-se o índice acumulado entre 2013 e 2018.

Neste mesmo período, o orçamento da Secretaria Estadual de Educação cresceu 24,7%, de R$ 1,261 bilhão para R$ 1,572 bilhão. A UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) elevou a receita em 87%, de R$ 113,9 milhões para R$ 214 milhões no período.

O investimento em segurança pública teve aumento de 59%, de R$ 776 milhões em 2013 para R$ 1,235 bilhão neste ano.

O único que ficou próximo do aumento no orçamento do Poder Judiciário foi o Fundo Especial de Saúde, com oscilação de 94,9% no mesmo período, de R$ 683,5 milhões para R$ 1,333 bilhão.

O orçamento do FUNJECC acumula valorização de 57,8%, de R$ 95 milhões para R$ 150 milhões.

Com a suspensão da votação, os deputados vão contribuir com o eleitor, que vai lembrar de quem votou a favor ou contra os projetos.

Até quem tem memória culta não terá desculpa para votar consciente para deputado estadual em outubro deste ano.

Presidente do TJ fez retirada estratégia. Agora, ele vai convencer os deputados de que a mudança nas taxas dos cartórios é boa, porque reduzirá o valor para habitações populares. Auxílio-transporte só depois do STJ julgar a ajuda de custo para moradia (Foto: Arquivo/Midiamax)