Bispo de Formosa e padres compraram fazenda de gado e lotérica com dinheiro desviado do dízimo, apontam escutas telefônicas
g1.globo.com/
Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça apontam que o bispo de Formosa, Dom José Ronaldo, e quatro padres compraram uma fazenda de criação de gado e uma casa lotérica com dinheiro desviado de dízimos e doações. Os clérigos e funcionários administrativos foram presos nesta segunda-feira (19) durante a Operação Caifás. Dinheiro foi apreendido escondido no fundo falso do guarda-roupa do monsenhor.
De acordo com o Ministério Público, responsável pela denúncia, eles teriam dado prejuízo superior a R$ 2 milhões aos cofres da Igreja Católica. O promotor Douglas Chegury disse que ele denunciado pelo mesmo motivo quando estava em Minas Gerais.
“O bispo enfrentou esse mesmo tipo de problema e resistência lá na Diocese de Janaúba (MG). Então ele veio transferido de lá para cá e aqui ele implementou um esquema semelhante ao que ele operava lá”, declarou.
O G1 tentou contato por telefone e mensagem com a Diocese de Formosa, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem. A reportagem também procurou a Diocese de Janaúba e aguarda resposta ao e-mail. Por telefone, uma funcionária disse não ter autorização para passar informações.
Na decisão que determinou a prisão temporária do grupo, o juiz Fernando Oliveira Samuel citou ainda que há indícios de que o dinheiro era usado para bancar despesas pessoais e que carros da Diocese de Formosa – responsável por gerir as paróquias do Nordeste goiano – eram usados com fins particulares.
“[Apuração aponta que as verbas arrecadadas] estão sendo sistematicamente desviados por ordem de José Ronaldo e igualmente aprovados em favor dos demais clérigos, chegando ao ponto na participação efetiva em atividades econômicas (pelo menos, atividade de pecuária e de exploração de casa lotérica). Além disso, é possível que veículos adquiridos pela diocese estejam sendo destinados para uso particular do Padre Moacyr na cidade de Posse”, declarou o juiz.
O juiz afirmou ainda que os padres forjavam informações para que as contas das igrejas de Posse, Formosa e Planaltina fossem ajustadas. À TV Anhanguera, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) disse estar buscando informações para conhecer melhor a denúncia.
As investigações começaram após denúncias de fiéis que relataram desvios iniciados em 2015. Em dezembro de 2017, o bispo negou haver irregularidades nas contas da Diocese de Formosa.
Carros e dinheiro apreendidos
Segundo o Ministério Público, o grupo se apropriava de dinheiro oriundo de dízimos, doações, arrecadações de festas realizadas por fiéis e taxas de eventos como batismos e casamentos.
O promotor de Justiça Douglas Chegury, um dos responsáveis pela Operação Caifás, foram apreendidas caminhonetes da cúria em nomes de terceiros, além de uma grande quantia de dinheiro em espécie, com valor ainda não foi divulgado.
Denúncia
Em dezembro de 2017, fiéis denunciaram que as despesas da casa episcopal de Formosa, onde o bispo mora, passaram de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde que Dom José Ronaldo assumiu o posto, havia três anos.
“O que nós temos certeza é que as contas da cúria não fecham. Então, nós queremos a abertura pública das contas da cúria [administração da diocese] e dos gastos da casa episcopal”, disse uma fiel, que preferiu não se identificar.
O grupo que contesta as contas informou que não recolheria o dízimo até que as medidas fossem atendidas. A diocese disse, na época, que o custo das 33 paróquias é de cerca de R$ 12 milhões por ano. Já a arrecadação, no mesmo período, é de R$ 16 milhões. O restante é destinado ao fundo de cada unidade.