Os deputados estaduais sucumbiram à pressão da sociedade sul-mato-grossense, que os bombardeou com críticas duríssimas pela proposta medieval de retirar o povo da tribuna, e desistiram de votar o projeto de resolução nesta terça-feira (20). Nas redes sociais e no plenário, os defensores da proposta foram chamados de “tiranos”, “autoritários” e defensores de algo “espúrio”.
De acordo com o deputado estadual Pedro Kemp (PT), a proposta foi retirada porque seria derrotada no plenário. “Valeu a pressão da sociedade”, destacou o petista.
“Em 40 anos de Assembleia não podia dar passos para trás. Aqui é a casa do povo e deve ser usada pelos sindicatos e associações. Essas manifestações não atrapalham a sessão e não tem porque o legislativo ser contra a liberdade de expressão”, afirmou o deputado Renan Contar, o Capitão Contar (PSL), conforme o Campo Grande News.
Em discurso contundente, o jovem deputado João Henrique Catan (PL) encarnou a fúria manifestada pela população nas redes sociais. “É uma vergonha. Algo tirano. Tão tirano como espúrio e um tanto quanto autoritário”, acusou, de acordo com o site Campo Grande News.
“A Constituição fala que todo poder emana do povo, que é soberano, e não tem porque retirar esse direito de se manifestar na tribuna”, declarou.
Réu por peculato, organização criminosa e corrupção pelo suposto desvio milionário no Detran (Departamento Estadual de Trânsito), Gerson Claro (PP) apresentou-se com moral para condenar as manifestações feitas pelos eleitores. “Existiam muitas críticas nas redes sociais falando mentiras à população. As pessoas têm que entender que a CCJ analisa a legalidade e não o mérito. Muitas vezes a tribuna é suada por pessoas para trazer debates já feitos na Assembleia ou que não tem legitimidade”, argumentou o parlamentar, que chegou a ser preso e afastado do cargo pela Justiça.
A retirada do projeto da Ordem do Dia pode ser apenas uma estratégia do presidente do legislativo, Paulo Corrêa (PSDB), outro defensor do maior retrocesso na história da Assembleia Legislativa. A proposta poderá sofrer ajustes, engavetada de vez ou ser aprovada de surpresa.
No Facebook, os eleitores reagiram com indignação e chocados pela iniciativa dos deputados estaduais. Não é a primeira vez que os deputados causam revolta neste ano.
No primeiro semestre, o mesmo grupo fez ofensiva para tirar os promotores das ações de combate à corrupção. O objetivo era limitar a atuação dos promotores que incomodam os poderosos da política estadual.
O projeto não foi votado, mas o chefe do Ministério Público Estadual, Paulo Cezar dos Passos, editou portaria com objetivo semelhante e acabou sacramentando acordo com os parlamentares. A coisa só não pior porque o procurador geral de Justiça validou todas as ações e inquéritos em andamento.
Após votar para tirar o povo da tribuna neste ano, os deputados planejam em pedir votos para, pasmem, ao povo em 2020.
Relator do projeto na CCJ, onde votou a favor de tirar a sociedade do parlamento, Barbosinha quer ser prefeito de Dourados. Ele vai pedir os votos dos douradenses na certeza de que muitos eleitores possuem memória curta, como reza um ditado popular brasileiro repetido a exaustão.
Lídio Lopes não deverá ser candidato, mas cogita pedir voto para eleger a esposa, a atual vice-prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (Patri). Como Marquinhos Trad (PSD) negocia a vaga de vice com o PSDB, ela deverá ser candidata a vereadora.
Os políticos sul-mato-grossenses só vão mudar e dar o devido valor à população, quando o eleitor mudar primeiro e elevar a própria autoestima.