Com um legado de crises e denúncias de corrupção, o governador Reinaldo Azambuja da Silva, 53 anos, foi aclamado candidato à reeleição pelo PSDB, neste sábado, e contará com o apoio de 14 partidos.
Apesar de ser alvo de dois inquéritos no Superior Tribunal de Justiça pela suposta cobrança de propina em troca de incentivos fiscais, o tucano frisou a “vida limpa” para permanecer na Governadoria por mais quatro anos.
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Apesar de ter sido eleito em 2014 pregando eficiência e modernidade administrativa, Reinaldo fechou o ano passado com déficit histórico de R$ 1,8 bilhão nas finanças estaduais. Neste caso, ele culpa a queda na arrecadação, causada, principalmente, pela diminuição drástica na compra de gás da Bolívia pela Petrobras.
A crise também é, segundo o candidato, a responsável pela defasagem de 20% nos salários dos 75 mil servidores públicos estaduais, que só tiveram um reajuste salarial de 2,94% na gestão tucana. Além disso, ele aprovou a polêmica Reforma da Previdência, contraria parecer do Ministério da Fazenda, que não deve acabar com o déficit e ainda penalizar os funcionários com o aumento na alíquota de 11% para 14%.
Não bastassem as dificuldades administrativas, o tucano viu-se envolvido em denúncias de corrupção em maio do ano passado, com a homologação da delação premiada da JBS. Conforme a empresa, houve pagamento de R$ 38,4 milhões em propinas ao tucano em troca de incentivos fiscais. Esta denúncia é investigada no Superior Tribunal de Justiça.
Outra denúncia foi de cobrança de propina foi feita por três empresários do setor de frigoríficos e curtumes, que apontaram o pagamento de propina de até R$ 500 mil para manter os incentivos. Como o governador foi citado no caso, o inquérito também tramita no STJ.
Apesar das investigações ainda estarem sendo apuradas pela Polícia Federal, Reinaldo não as citou no discurso. “Tenho uma vida limpa, sem condenações e com investigações arquivadas”, frisou, em discurso na convenção do PSDB.
O tucano tem razão quando frisa que não responde a nenhuma ação por improbidade. Só negligenciou ao dizer que as investigações estão arquivadas, porque ainda seguem, em sigilo, no STJ. Um terceiro inquérito foi anexado aos dois já em tramitação no STJ em 18 de junho deste ano.
Em mais de uma ocasião, Reinaldo criticou a onda de denúncias que compromete a classe política. Apesar de considerá-la correta em relação aos adversários, o tucano se considera vítima do “denuncismo exarcebado”.
No ano passado, o então presidente do Detran, Gerson Claro Dino, chegou a ser preso e se tornou réu por corrupção, organização criminosa e peculato. Agora, é candidato a deputado estadual em aliança do PP, seu novo partido, com o PSDB.
O presidente regional da sigla, o ex-prefeito da Capital, Alcides Bernal, responde a várias ações por improbidade e chegou a ser condenada em uma, também apoia a reeleição.
Outro aliado polêmico é Nelsinho Trad (PTB), candidato a senador, alvo de mais de 20 ações por improbidade administrativa. O MPE acusa o ex-prefeito de receber R$ 29 milhões em propina para comprar fazenda em decorrência de fraude na licitação do lixo para beneficiar a Solurb, que seria do ex-cunhado, o empresário João Amorim.
Nelsinho nega as denúncias e aponta equívocos dos promotores, por exemplo, nas 11 ações por improbidade que apontam fraude e superfaturamento na operação tapa-buracos. Conforme o ex-prefeito, o MPE já tinha investigado e até arquivado suspeitas envolvendo o gasto com a manutenção das vias pavimentadas.
O coordenador político da reeleição, Sérgio de Paula, é réu por improbidade administrativa pelo uso do avião do Estado para ir ao velório e à missa do sétimo dia do pai. Ele ainda é um dos investigados no inquérito 1.198 em tramitação no STJ.
Apesar desses fatos, o tucano enxerga um legado positivo. “O Estado foi o segundo em geração de emprego, o terceiro mais seguro e o primeiro em investimento em infraestrutura e saneamento”, afirmou, conforme registro do Campo Grande News.
O segundo candidato a senador será o ex-secretário estadual de Infraestrutura, Marcelo Miglioli (PSDB). O maior seu maior desafio será decolar durante a campanha, que terá 45 dias, já que não conseguiu sair dos 3% durante a fase de pré-campanha.
“Caso (re)eleito, quero consolidar a reestruturação da saúde e continuar os ajustes fiscais para o que o Estado tenha poder de investimentos nas áreas essenciais”, pregou.
Reinaldo cancelou a construção dos hospitais regionais de Dourados e de Três Lagoas em 2015. Ele relançou as obras no ano passado. No entanto, a marca na área é a Caravana da Saúde, que teve a segunda edição realizada neste ano na Capital.
“Cumprimos 76% do que prometemos em 2014. Temos três anos e sete meses de governo e fizemos um bom trabalho. Se olharmos para fora de MS, vão perceber que conseguimos fazer investimentos e cumprir os compromissos aqui dentro”, avaliou.
Algumas promessas só foram cumpridas no último ano de mandato, como é o caso da redução da alíquota do ICMS sobre o óleo diesel, de 17% para 12%, adotada após a greve dos caminhoneiros. A outra foi o fim do ICMS Garantido, adotada nesta semana.
“A crise está ficando para trás e agora é necessário olhar para frente”, disse, conforme o Top Mídia News.
E para chegar ao segundo mandato, Reinaldo conseguiu o apoio de 14 partidos, que inclui o DEM, responsável pela indicação do candidato a vice-governador Murilo Zauith. Aliás, os democratas não escondem de ninguém que só fecharam com o tucano graças à prisão do ex-governador André Puccinelli (MDB).
Prefeito de Maracaju por dois mandatos, entre 1996 e 2004, Reinaldo teve carreira meteórica na política, sendo deputado estadual (2006-2010) e deputado federal (2011-2014). Ele foi eleito governador na primeira disputa ao derrotar o então senador Delcídio do Amaral.
Considerando-se o histórico, Reinaldo é favorito, já que nenhum antecessor perdeu a reeleição. Zeca do PT sofreu, mas derrotou Marisa Serrano (PSDB) em 2002. André não teve dificuldades, nem com deflagração da Operação Urugano, com a revelação de suposto mensalão pago pela Assembleia, para se reeleger e vencer Zeca em 2010.
Já o grande arco de aliança, formado por 14 partidos, não é garantia de vitória. Em 2012, Edson Giroto (PR), atualmente preso na Operação Lama Asfáltica, reuniu 17 partidos e perdeu a prefeitura da Capital, apesar de contar com o apoio do então prefeito Nelsinho Trad e do governador André Puccinelli.
Reinaldo sabe da dificuldade e admitiu, em entrevista coletiva, que a eleição não será fácil.
Só em outubro, quando terminar o pleito, ele saberá se fez bem em não seguir o conselho da mãe, Zulmira Azambuja, dona Zuzu, para deixar a vida pública por não ser lugar para pessoas boas, conforme relato do Campo Grande News.
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