O envolvimento com contrabando de cigarros do Paraguai voltou a expor servidores da cúpula da segurança pública de Mato Grosso do Sul nesta sexta-feira (15). Sete oficiais da Polícia Militar de MS foram presos em operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) contra o negócio ilegal que movimenta milhões por mês da chamada ‘máfia dos cigarreiros’.
Os mandados foram cumpridos nas cidades de Campo Grande, Coxim, Sidrolândia, Naviraí, Aquidauana e Dourados. Em comum, todos os alvos da Operação Avalanche têm bom trânsito político, salários mensais na faixa dos R$ 20 mil e posições de comando na Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública).
Três dos detidos comandaram o DOF (Departamento de Operações de Fronteira), apontado como unidade de elite da Sejusp justamente para coibir crimes como o contrabando na região de fronteira. Um deles, Kleber Haddad Lane, era titular até recentemente da Superintendência de Segurança Pública e Políticas Penitenciárias, um dos cargos mais importantes na estrutura do atual secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública de MS, Antonio Carlos Videira.
Para conseguir 7 mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão expedidos pelo Juízo da Auditoria Militar de Mato Grosso do Sul, o Gaeco contou com apoio da Promotoria de Justiça da Auditoria Militar e a Corregedoria-Geral da Polícia Militar de MS.
Os indícios reunidos apontam para os crimes de organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Policial do lado dos bandidos
Não é de hoje que servidores da segurança sul-mato-grossense convivem com a ascensão de grupos criminosos dentro da estrutura oficial da Sejusp. Em 2018, com a Operação Oiketikus, a chamada máfia dos cigarreiros sofreu o primeiro golpe em MS, com a prisão de 29 policiais. De lá para cá, muitos conseguiram ‘contornar’ o escândalo e alguns foram até absolvidos na Justiça Militar.
Agora, o desdobramento ataca novamente a corrupção policial em Mato Grosso do Sul e mira, pela primeira vez, somente nos oficiais de alta patente que teriam mantido ativa a organização criminosa composta por policiais Militares que atuam na facilitação do contrabando de cigarros em Mato Grosso do Sul.
E, para jogar do lado dos bandidos, esses policiais receberiam gordas propinas, pelas quais colocam em risco a estabilidade do serviço público e os altíssimos salários, além de sapatearem na ‘honra da farda’, que alguns exaltam nos perfis pessoais nas redes sociais. O contrabando de cigarro movimenta aproximadamente R$ 12 bilhões por ano no Brasil.
Com a corrupção policial, Mato Grosso do Sul se tornou ‘corredor’ para os principais mercados consumidores brasileiros do produto paraguaio que chega mais barato por não pagar impostos. Considerado ‘menos feio’ na avaliação dos policiais corrompidos, o contrabando de cigarros abre brecha para outras atividades criminais como o narcotráfico e tráfico internacional de armas.
Quem são os oficiais presos?
Confira quem são, o que faziam e quanto ganham os oficiais da PMMS presos na Operação Avalanche. As informações, como os salários que receberam no último mês, são dados oficiais do Governo de Mato Grosso do Sul:
Kleber Haddad Lane (Coronel da PMMS)
Ex-comandante do DOF, ‘força de elite’ da Sejusp no combate a crimes como o contrabando sediado em Dourados, Kleber Haddad Lane foi para reserva da PM como coronel, e só de aposentadoria recebe R$ 33.879, 76 como ‘remuneração fixa’. Além disso, pela nomeação em ‘cargo especial de assessoramento’, recebe mais R$ 8.500,00 brutos.
Carlos da Silva (Tenente-coronel da PMMS)
Atualmente é comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, sediado em Dourados, tem rendimento fixo de R$ 23.766 como oficial superior.
Wesley Freire de Araújo (Tenente-coronel da PMMS)
Já atuou em setores estratégicos da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, como inteligência, e foi lotado no TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado). Atualmente, era comandante do 12º Batalhão da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, sediado na cidade de Naviraí, considerada como sede logística para esquema de cargas dos cigarreiros, tem rendimento fixo de R$ 23.766,00 como oficial superior na Sejusp.
Josafá Pereira Dominoni (Tenente-coronel da PMMS)
Atuou como comandante do 8º Batalhão da PM de Nova Andradina, também na região considerada estratégica para os esquemas de contrabando e narcotráfico que operam em Mato Grosso do Sul, e já comandou toda a PMR-MS (Polícia Militar Rodoviária). Atualmente estava no comando da 5º Companhia Independente da Polícia Militar de Campo Grande. Tem rendimento fixo na Sejusp de R$ 22.851,00.
Luiz César de Souza Herculano (Major da PMMS)
Tem rendimento fixo de R$ 19.464,15, segundo dados da transparência da Sejusp e assumiu o comando do 5º Batalhão da Polícia Militar de Coxim, onde era subcomandante até fevereiro de 2020.
Jidevaldo de Souza Lima (Tenente-coronel da PMMS)
Apesar de já ter sido condenado pela Justiça Militar a três anos e 10 meses por prevaricação e peculato, Jidevaldo foi comandante da Polícia Militar em Amambaí, na fronteira entre Mato Grosso do Sul e Paraguai. O caso transitou em julgado em junho de 2013, mas Jidevaldo foi beneficiado com extinção da pena em fevereiro de 2015, quando passou a ter efeito o indulto de Natal concedido tradicionalmente pela Presidência da República – no caso, o indulto de 2014. Em janeiro, assumiu a chefia da 4ª Seção do Estado Maior da PMMS, onde atuava na ‘Política e Planejamento de Logística’. Recebe R$ 22.851,93 como rendimento fixo na Sejusp.
Erivaldo José Duarte (Tenente-coronel da PMMS)
Foi comandante da Polícia Militar em Sidrolândia, justamente quando a unidade foi assolada por uma operação contra corrupção. Vários comandados foram presos e na sequência ele pediu aposentadoria com salário proporcional. É conhecido pelas alcunhas de ‘poeirinha’, ou ‘gigante’ e recebe de rendimento fixo R$ 23.766,00 dos cofres públicos de Mato Grosso do Sul.
Operação Oiketicus III
A operação Avalanche é um desdobramento da Oiketicus e está em sua terceira fase, com cumprimentos de mandados em várias cidades do Estado. Em Dourados, a casa do comandante do 3º batalhão local da PM também foi alvo de cumprimento de mandado de busca e os agentes saíram do local com vários documentos. O comandante foi levado para o batalhão de polícia da cidade e contra ele havia um mandado e prisão.
A primeira fase da Operação Oiketikus foi desencadeada pelo Gaeco do Ministério Público Estadual e pela Corregedoria Geral da Polícia Militar, em 2018 e levou a prisão cerca de 29 policiais que foram denunciados por corrupção passiva e organização criminosa, por integrarem a chamada “Máfia dos Cigarreiros”.
As investigações iniciaram em abril de 2017 e apontaram que policiais militares de Mato Grosso do Sul davam suporte ao contrabando, mediante pagamento sistemático de propina, interferindo em fiscalização de caminhões de cigarros para que não ocorressem apreensões de cargas e veículos, além de adotarem outras providências voltas para o êxito do esquema criminoso. Os cigarreiros agiam associados desde o início de 2015, estruturalmente ordenados e com divisão de tarefas. As atividades eram desenvolvidas em dois grandes núcleos.
Policiais presos na 1º fase
São eles Admilson Cristaldo Barbosa, Alisson José Carvalho de Almeida, Anderson Gonçalves de Souza, Angelúcio Recalde Paniagua, Aparecido Cristiano Fialho, Claudomiro de Goez Souza, Claiton de Azevedo, Clodoaldo Casanova Ajala, Elvio Barbosa Romeiro, Erick dos Santos Ossuna, Francisco Novaes, Ivan Edemilson Cabanhe, Jhondnei Aguilera, Kelson Augusto Brito Ujakov, Kleber da Costa Ferreira, Lindomar Espindola da Silva, Lisberto Sebastião de Lima, Luciano Espindola da Silva, Maira Aparecida Torres Martins, Marcelo de Souza Lopes, Nazário da Silva, Nestor Bogado Filho, Nilson Procedônio Espíndola, Oscar Leite Ribeiro, Ricardo Campos Figueiredo, Roni Lima Rios, Salvador Soares Borges, Valdson Gomes de Pinho e Wagner Nunes Pereira.
Inocentados
Aparecem na lista dos inocentados Anderson, Claudomiro, Claiton, Clodoaldo, Kleber, Nazário, Nestor, Nilson, Roni, Salvador e Wagner. Os outros foram condenados, mas nem todos respondem pelos mesmos crimes. Dentre eles, Angelucio, Elvio, Erick, Francisco, Ivan, Jhondnei, Lisberto e Valdson tiveram pedidos acatados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e cumprem as condenações em liberdade, com medidas restritivas. (Editado às 17h20)
fonte midiamax