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No inquérito sobre o suposto pagamento de R$ 38,4 milhões em propinas ao governador Reinaldo Azambuja (PSDB), a Polícia Federal pegou novos depoimentos dos delatores, recolheu mais documentos e ainda ouviu os pecuaristas e empresas acusados de fornecer notas fiscais frias ao tucano. Até o senador cassado Delcídio do Amaral, principal adversário na eleição de 2014, foi convocado para prestar esclarecimentos no processo que tramita no Superior Tribunal de Justiça.
O escândalo começou com a delação premiada da JBS, que citou aproximadamente 1,7 mil políticos. A colaboração premiada foi homologada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, que determinou o encaminhamento do caso ao STJ, onde tramita em sigilo por determinação do ministro Félix Fischer.
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As diligências ganharam força em dezembro do ano passado, quando a Polícia Federal pegou mais detalhes da denúncia contra Reinaldo com os donos da JBS, os irmãos Joesley e Wesley Batista, que estavam presos na ocasião, e o executivo Valdir Aparecido Boni.
O Jacaré apurou que eles detalharam como funcionava o suposto esquema de pagamento de propina ao governador sul-mato-grossense. Vadir e Wesley entregaram mais documentos para corroborar com a denúncia. O advogado ainda encaminhou um pen drive com mais dados para Polícia Federal em Brasília.
Neste mês, a PF ouviu os produtores rurais que teriam fornecido as notas fiscais frias para “legalizar” o pagamento das vantagens indevidas. Entre os convocados para prestar depoimentos estavam o ex-secretário estadual de Fazenda e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Márcio Monteiro, o pecuarista Élvio Rodrigues, o ex-prefeito de Dois Irmãos do Buriti, Osvane Ramos, o ex-prefeito de Porto Murtinho e ex-presidente da Fundação de Turismo, Nelson Cintra, o deputado estadual José Roberto Teixeira, o Zé Teixeira (DEM), entre outros.
Até o ex-senador Delcídio foi intimado para prestar depoimento sobre as denúncias envolvendo o governador. Outro chamado foi o pecuarista e empresário Ivanildo da Cunha Miranda, que se tornou o primeiro delator de Mato Grosso do Sul na Operação Lama Asfáltica, suposto esquema que envolve o ex-governador André Puccinelli (MDB).
Outros funcionários da JBS também foram chamados para serem ouvidos no inquérito, como Florisvaldo Caetano de Oliveira, Demilton Antônio de Catro e Flávio Gerodetti.
Somente após a conclusão da investigação pela PF, a procuradora geral da República, Raquel Dodge, poderá denunciar o governador ou pedir o arquivamento do caso. Caso a denúncia seja aceita pelo STJ, o tucano pode ser afastado do cargo por 180 dias.
A delação foi feita no final de maio do ano passado e envolve os dois antecessores de Reinaldo. Joesley acusa Zeca do PT de ter iniciado o modus operandi de cobrar propina em troca da concessão de benefícios fiscais, mas não apontou o valor pago ao petista.
Puccinelli teria recebido R$ 112 milhões ao longo de oito anos. O emedebista não só nega a denúncia, como ressalta que provará a inocência no decorrer do processo.
Governador se diz vítima de líderes de organização criminosa
Reinaldo Azambuja decidiu ir para o confronto com os irmãos Batista. Ele se diz vítima de líderes de organização criminosa e até tentou cancelar a delação premiada da JBS no Supremo Tribunal Federal, porque a lei proíbe a concessão de benefícios para chefes de quadrilha.
No entanto, o plenário do STF negou o pedido do governador para cancelar a delação premiada da JBS. O ministro Celso de Mello, do STF, também negou habeas corpus para trancar a investigação.
Ele recorreu pela terceira vez ao STF para ter acesso ao inquérito no STJ. Fachin concedeu parcialmente o pedido ao permitir que o tucano tenha acesso às provas juntadas ao inquérito, desde que isso não comprometa a investigação.
Além disso, ele ingressou com interpelação na Justiça contra O Jacaré por estar divulgando as denúncias feitas pela JBS. O governador alega que há violação de sigilo, apesar dos despachos dos ministros serem públicos desde maio do ano passado.