Medicamentos para pacientes vivendo com HIV na Cedip, um dos locais de tratamento (Foto: Divulgação/Prefeitura de Campo Grande)
Seguir à risca o tratamento para o HIV está sendo desafiador para quem se mudou do interior para a capital de Mato Grosso do Sul e não consegue marcar consultas com a regularidade que precisa.
“Eu faço tratamento contra o HIV desde 2013, quando morava em Naviraí. Sempre fui muito bem atendido e orientado, meu tratamento lá era exemplar. Sempre tive remédios disponíveis, consultas agendadas e exames de sangue. Mas me mudei para Campo Grande em julho do ano passado, e, desde então, receber atendimento pelo Hospital Dia e qualquer outro lugar da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) está sendo um pesadelo”, conta um paciente.
Por causa do tabu que ainda cerca o vírus, ele prefere ter o nome preservado. Se identifica como uma das pessoas que busca atendimento no Hospital Dia Professora Esterina Corsini, que fica dentro do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian.
O local é uma das instituições que contam com tratamento a soropositivos acometidos pela Aids na Capital. Oferece consultas com infectologistas, dispensação de receitas e coleta de exames de sangue para detectar carga viral via SUS (Sistema Único de Saúde).
O acompanhamento precisa ser frequente. Deixar de tomar os remédios, nem pensar. É justamente o medo do paciente, que precisou pedir uma receita de emergência a uma infectologista no corredor do hospital esta semana.
Voltar a transmitir – Sua próxima consulta está agendada somente para agosto. Caso não tivesse conseguido a prescrição médica, ficaria sem medicamentos de uso contínuo durante dois meses. Seria a primeira vez no histórico do tratamento que deixaria de tomá-los.
Sem o coquetel, corre o risco de voltar a transmitir o vírus. “Isso é um descaso com os pacientes. Eu estou indetectável há mais de oito anos, ou seja, eu não transmito mais a doença. Se eu parar meu tratamento e deixar de tomar os remédios, o vírus volta a se multiplicar e eu volto a transmitir”, explica o paciente.
Além disso, ele aguarda desde novembro para agendar um exame de densidade óssea, necessário para verificar risco de osteoporose nos pacientes.
Ele afirma ter formalizado a reclamação na ouvidoria da Sesau e do Ministério da Saúde, assim como outras pessoas soropositivas têm feito. “A própria equipe do hospital me orientou a reclamar, porque eles estão de mãos atadas, vendo os pacientes desistirem de tratamento”, diz.
SISREG – Para o ex-morador de Naviraí, o que atrasa as consultas de rotina em Campo Grande é o SISREG (Sistema de Regulação), que tem alcance nacional e é adotado pela Sesau. “Desde a implantação do SISREG, o atendimento piorou muito”, acredita.
Em contato com o atendimento do Hospital Dia, a reportagem apurou que o sistema tem obrigado pessoas com HIV a esperar de três a quatro meses pelo primeiro atendimento, um tempo mais longo em comparação à época em que a instituição tinha controle interno disso.
Hospital Dia fica anexo ao Humap (Foto: Arquivo)
O ideal, para que não abandonem o tratamento, é que a espera seja reduzida. O soropositivo que denuncia o problema conta ter conversado com outros que têm a mesma opinião. “Isso é muito sério. Não é só um descaso com o paciente, com o individual. Isso é um caso de saúde pública. O SUS deveria ser acionado de maneira nacional. A gravidade disso é absurda”, desabafa.
A Sesau – Em contato com o Campo Grande News, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que precisa verificar individualmente o caso relatado, mas reforçou que as pessoas vivendo com HIV têm prioridade no atendimento à saúde e que instituições que oferecem tratamento estão espalhadas pelas sete regiões da Capital.
No caso das que já convivem com a Aids, cita que o tratamento é realizado, além do Hospital Dia, no Cedip (Centro Especializado em Doenças Infecto Parasitárias) e no CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento). Os agendamentos são feitos pelo SISREG, confirma a pasta.
“Nesses casos, para a primeira consulta é necessário que seja feita a regulação pelo SISREG, que é um sistema nacional, adotado pelas secretarias de saúde visando garantir celeridade e qualidade no atendimento à população”, detalha em nota.
Segundo a Sesau, “depois de receber o atendimento inicial, o paciente é inserido na agenda interna da unidade e passa a fazer o agendamento do acompanhamento diretamente com o local onde está realizando o tratamento”.
Em relação à demora para agendamento de consultas e número de pacientes que fazem tratamento na Capital atualmente, não houve resposta. O espaço segue aberto. – CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS