Do amor que resistiu a idas e vindas, ao medo de nunca dar certo e até ao câncer que levou à morte, nasceu João Rafael, um menino que chegou ao mundo prematuro e provou à medicina que não há ciência maior do que a fé de uma mãe.
A história do financeiro Isaack Mendes Campagna, 31 anos, e da médica veterinária Márcia da Silveira Bombassaro, que tinha 33 anos quando faleceu, começou em 2009. Na época, ela tinha 26 e ele 23 anos. Não precisaram muitos encontros para que os dois percebessem que havia um sentimento crescendo ali. Mas nem todo o caminho foi de rosas.
“Eu era muito novo, não tinha um emprego, estava começando a vida, e ela estava em uma fase diferente, já pensava em casar, queria mais segurança e não sentia isso de mim”, recorda Isaack.
E justamente por isso, o namoro deles foi marcado por términos e recomeços. “Começamos a ficar em 2009 e nos afastamos no final do ano. No final de 2010, começamos a namorar. Ficamos juntos 4 meses e terminamos de novo. Ficamos separados em 2011 e 2012, mas sempre nos falávamos. Daí, no começo de 2013, voltamos, ficamos noivos em outubro e marcamos casamento para 2014”, conta Isaack.
Mas em janeiro de 2014, um tumor no cérebro de Marcia mudou os planos do casal. Por conta da doença, ela passou a ter uma rotina de internações. “Ela ficou no hospital em janeiro e quando foi para casa já começou o tratamento. Em fevereiro eu fui morar na casa dos pais da Marcia, para cuidar dela”, lembra Isaack.
Em abril, a primeira fase do tratamento havia sido concluída. A partir daquele mês, ela fazia quimioterapia de manutenção a cada 21 dias, durante seis meses, e encerrou este ciclo com o tumor necrosado. Em novembro de 2014, ela voltou ao trabalho e a ter uma rotina normal.
Com os resultados positivos e animadores, o casal remarcou o casamento para outubro de 2015. Mas no final de novembro de 2014, uma nova surpresa veio para novamente reorganizar a vida. Marcia estava grávida. A felicidade tomou conta de toda a família e o bebê que a veterinária estava gestando já era muito amado por todos.
Até que no início de 2015, descobriram que o tumor no cérebro havia voltado. Seria necessário retomar o tratamento. E a frase que nenhuma mãe deseja ouvir veio sem titubear da boca do médico: “vai ter que escolher, a vida da mãe ou do bebê”. Mas a resposta veio também bastante incisiva: “Deus não me deu um filho para ter ue tirá-lo de mim”. E com todo o apoio e amor da família, Márcia optou em continuar a gestação e não fazer o tratamento.
“Ali ela começou a demonstrar toda a fé que tinha”, lembra Isaack.
Alternativa no tratamento
Em busca de uma segunda opinião médica para o tratamento, Márcia e Isaack foram para Curitiba junto com a família. Lá, foi colocado um dreno na cabeça dela para eliminar o líquido que juntava por causa do tumor. E assim ela levou o tratamento e a gestação até abril de 2015, quando o dreno passou a não dar mais tanto resultado.
O casamento havia sido remarcado mais uma vez para o dia 2 de maio daquele ano. Mas em 28 de abril, os planos novamente começaram a tomar outros rumos. Márcia operou no dia 4 de maio e retirou uma parte do tumor. Foi para o UTI, onde ficou por 2 dias e foi encaminhada para o quarto. Mas uma convulsão exigiu que ela tomasse um medicamento muito forte, que poderia afetar o bebê. E de novo as palavras do médico foram duras: “Precisamos tirar o bebê e entrar com o medicamento, senão vamos perder os dois”.
Com 28 semanas gestado, João Rafael nasceu no dia 9 de maio de 2015, com 1 quilo e 140 gramas e 35 centímetros. Da sala de cirurgia, mãe e filho foram para a UTI. Márcia estava em coma induzido e recebendo medicação. “Os médicos chegaram a desengana-la, mas eu sabia que ela ia sair da UTI”, diz Isaack. E 10 dias depois, ela teve alta.
No dia 27 de julho, foi a vez de João Rafael sair do hospital, sem nenhuma sequela e com o peso de um bebê saudável. Dois dias depois, a família toda voltou para Campo Grande. Márcia continuou o tratamento aqui, vivendo um dia de cada vez e sempre comemorando o milagre de estar viva.
Márcia ainda desfrutou um ano de vida ao lado do filho. Pode batizá-lo, comemorar cada “mêsversário” do menino, leva-lo ao shopping, a festinhas e à missa, que por sinal foi onde Márcia o levou na primeira vez que o pequeno foi liberado para sair de casa.
Mesmo com graves limitações de movimentos, que dificultavam sua locomoção e exigiam alguém sempre ao seu lado para as tarefas mais corriqueiras, como tomar banho, trocar de roupa, comer, ainda assim Márcia fazia questão de participar de tudo da vida do filho. E contou sempre com o apoio dos pais, que também jamais se ausentaram do lado dela, assim como Isaack.
No dia 14 de julho de 2016, a luta de Márcia contra o câncer chegou ao fim. “Ela cumpriu sua missão, nos trouxe o João Rafael. É triste ela não estar mais aqui, mas é gratificante lembrar de tudo o que ela fez”, diz Isaack.
“Quando vejo ele, lembro de tudo o que ela fez para deixa-lo pra gente. Ela sabia que não iria sobreviver, mas cumpriu o papel dela e Deus ainda deu a graça para ela saborear essa vitória”, descreve Isaack, sem conter as lágrimas e a emoção em ver o quanto o amor e a dor o transformaram em um novo homem.
Hoje, Isaack e João Rafael moram na casa onde o casal havia comprado e iria morar após o casamento. A cerimônia nunca existiu, mas no coração dos dois os laços eram muito mais fortes e representavam além do que qualquer papel assinado. E o amor foi tanto que transbordou, gerando a vida de João Rafael.
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