A Operação Cifra Negra, que levou três vereadores e um suplente à prisão em Dourados, ganha dimensão estadual e vem causando insônia em políticos de 30 municípios sul-mato-grossenses. Investigação aponta indícios de que o esquema de fraude em licitação e pagamento de propina envolve 100 vereadores.
A ofensiva do Ministério Público Estadual, que conta com inédito aval do Tribunal de Justiça, vem promovendo limpa semelhante ao Rio de Janeiro na segunda maior cidade do Estado. O excelente trabalho vem causando até inveja em moradores de outras cidades, que torcem pela descoberta de outros esquemas.
O primeiro indício de que não haveria dó nem piedade no combate à corrupção em Dourados ocorreu com a prisão do então secretário municipal de Fazenda, João Fava Neto, sogro do deputado estadual eleito Neno Razuk (PTB), filho da prefeita Délia Razuk (PR).
A Operação Pregão ainda levou para a cadeia a vereadora Denize Portolann de Moura Martins (PR), que chegou a comandar a Secretaria Municipal de Educação.
A ofensiva continuou com a Operação Cifra Negra, desencadeada pelo MPE e Polícia Civil no período vespertino, um horário inédito para ações especiais. Esta levou ao pé da letra o ditado popular “antes tarde do que nunca”.
Neste caso, a Justiça decretou a prisão preventiva de três vereadores: Idenor Machado (PSDB), Pedro Pepa (DEM) e Pastor Cirilo Ramão (MDB). Recolhidos ao presídio da cidade, eles ainda foram afastados dos cargos de vereador e impedidos de participar da eleição da nova mesa diretora da Câmara.
Pepa não só queria participar, como disputar a presidência, repetindo a afronta da classe política brasileira de que não basta a denúncia, a prova, a primeira sentença. Tão acostumado com o mal feito, alguns debocham dos valores brasileiros ao ignorar graves denúncias de corrupção.
Em qualquer país civilizado, uma simples irregularidade seria motivo de vergonha. No Brasil, há quem acha sinais da evolução dos bons costumes receber policiais federais ou o Gaeco para tomar café da manhã.
Além dos vereadores, foram presos os empresários Denis da Maia, da Quality Tecnologia e Sistemas; Jaison Coutinho, da Jaison Coutinho ME; Francieli Aparecida Vasum, da Vasum ME; e Karina Alves de Almeida, da KMD Assessoria Contábil e Planejamento a Municípios. Outros dois ex-servidores e o ex-vereador Dirceu Longhi (PT) completam a lista.
De acordo com o Diário MS e o Campo Grande News, os empresários pagavam propina de R 20 mil a Idenor, que foi presidente do legislativo douradense.
O mais assombroso é a constatação de que o esquema de fraude em licitações e pagamento de propinas atinge 100 vereadores em 30 municípios. Os sinais indicam que o escândalo pode terminar em tsunami da classe política no interior do Estado, causando verdadeira mudança nas lideranças políticas.
Os escândalos também sacodem Ladário, onde o prefeito e sete vereadores foram presos por pagamento de mensalinho.
Fraude em concurso público mudou o primeiro escalão na Prefeitura de Aparecida do Taboado, que virou até rota para o Gaeco.
Enquanto criminosos transvestidos de políticos se apavoram com as operações, a maior parte da população se enche de esperança de que o dinheiro público, finalmente, poderá ser investido com retidão, honestidade, transparência e em benefício de toda a sociedade.
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